Afinal, a contaminação cruzada é tão ruim assim?
Para responder a essa pergunta, precisamos entender o que de fato é a contaminação cruzada.
Nós encontramos o glúten basicamente em 4 cereais (cevada, centeio, malte e trigo), mas também encontramos na aveia por rotatividade de plantio (ela costuma, no Brasil, compartilhar espaço de plantio com o trigo).
Então, quando uma pessoa tem alguma desordem relacionada ao glúten, esses cereais precisam ser evitados. Porém, em algumas situações, encontramos alimentos que embora não possuam glúten na composição, tem a informação “contém glúten” na embalagem. Isso ocorre justamente pela contaminação cruzada.
A contaminação cruzada ocorre quando partículas de glúten entram em contato com alimentos naturalmente sem glúten. Isso pode ocorrer em várias fases do processo produtivo, na plantação, no compartilhamento de maquinários, no transporte e até na estocagem no supermercado ou depósito.
Para quem não conhece a condição celíaca de perto, pode pensar em um primeiro momento que o cuidado com a contaminação cruzada é besteira, que não faz mal um pouquinho apenas ou que é coisa de gente neurótica.
Mas a realidade é que a doença celíaca é autoimune, ou seja, os anticorpos (que são proteínas responsáveis pela defesa do nosso corpo contra substâncias estranhas) atacam as células do próprio organismo, tecidos e órgãos, ao entrar em contato com glúten. Parece simples né, mas vamos continuar?
A nutricionista Juliana Cruciscki, ao abordar os celíacos que “furam a dieta” fala um pouquinho dessa exposição eventual, “essas escapulidas da dieta, vão gerando danos que se acumulam no organismo e a longo prazo podem levar a sérias complicações, como a doença celíaca refratária e até mesmo o linfoma intestinal! E aí, minha gente, a coisa fica pra lá de complicada, porque o tratamento destas condições é bem mais complexo, com restrições alimentares beeeem maiores…”. Essa informação também vale para contaminações frequentes.
Além disso, vale lembrar que as doenças autoimunes andam de mãos dadas e a possibilidade de desenvolver outras autoimunes (Tireoide de Hashimoto, Síndrome de Sjögren, etc) aumenta consideravelmente com a exposição constante à contaminação por glúten, ainda que de forma indireta e, MESMO que os exames do celíaco estejam em dia, isso porque a contaminação não costuma aparecer nos exames, salvo se for constante e em quantidades significativas – aí podemos falar em exposição direta ao glúten.
DICAS PARA EVITAR A CONTAMINAÇÃO CRUZADA
Já que concordamos que a contaminação cruzada é um dos grandes vilões do celíaco, vamos deixar aqui pequenas dicas para quem quer realmente se cuidar e ter “saúde celíaca” – gosto desse termo sempre utilizado pela Flávia Anastácio no grupo Viva Sem Glúten (que você pode conhecer clicando aqui).
Para a indústria:
- “mesmo com a inscrição “Não contém glúten” no rótulo dos alimentos, devemos sempre que encontrar algum produto novo, entrar em contato com o SAC da empresa e perguntar sobre a possibilidade da contaminação cruzada por glúten. Se a empresa também trabalha com produtos COM glúten, mais um motivo para desconfiar e pesquisar”. Raquel Benatti
Obs: aqui vale perguntar se a empresa faz rastreamento da matéria prima, se compartilha maquinário, se há processo de limpeza certificado. - “Toda vez que experimentar algum produto novo, faça com moderação e sem ser junto com outra novidade sem glúten. Caso você se sinta mal, analise o que comeu e identifique o que pode ter acontecido. Muitas vezes passamos mal sem ser por contaminação de glúten”. Raquel Benatti
- Verifique se as áreas de produção e utensílios utilizados na produção de alimentos são diferentes e exclusivos.
Em casa – caso não seja possível retirar totalmente o glúten da dieta familiar (essas dicas aprendi no grupo Viva Sem Glúten no facebook, cujo link está acima)
- Tenha áreas exclusivas para o consumo de alimentos gluteinados.
- Lave e armazene separadamente panos de prato, toalhas e até roupas que tenham glúten.
- Tenha esponja e panos de prato exclusivos para produtos sem glúten.
- No armário, opte por uma área exclusiva sem glúten, de preferência na parte mais alta.
- Na geladeira, separe a primeira prateleira para os produtos sem glúten e tenha manteiga, requeijão, maionese exclusivos – o uso de faca com e sem glúten gera contaminação.
- Evite produzir alimentos com glúten em casa, afinal, a farinha fica em suspensão no ar por até 24 horas, podendo cair em alimentos sem glúten e contaminar.
- O celíaco precisa ter pasta de dente e toalha de rosto exclusiva.
- Forno, fogão, liquidificador, batedeira, processador, mixer ou qualquer outro eletrodoméstico não deve ser compartilhado, o glúten se aloja no motor e nas paredes dos mesmos podendo contaminar.
- Não utilizar utensílios de teflon, madeira, plástico e tecido que já foram utilizados com produtos gluteinados.
- Fique atento à ração do seu animalzinho de estimação – SIM, elas tem glúten e os bichinhos são ótimos em espalhá-lo, seja pelas fezes ou saliva.
- Ah! Não menos importante – se você compra produtos orgânicos, é importante SEMPRE verificar com o produtos se ele não utiliza pasta de trigo para afastar as pragas, essa é uma prática comum e barata, tornando o alimento impróprio para celíaco.
- E, por fim, tente manter sua sanidade em dia – confesso que aqui em casa não foi possível, por isso retiramos todo o glúten.
DICAS PRECIOSAS!
Se você descobriu recentemente a doença celíaca, vou deixar duas informações bem bobas mas igualmente importantes:
NÃO, você não pode comer o pão de queijo da padaria ou qualquer outro produto nela produzido, como dissemos, o trigo fica em suspensão no ar e cai sobre tudo o que ali é produzido.
NÃO, você não pode tirar o recheio da pizza e comer só ele, excluindo a massa. O contato com o glúten já contaminou, mesmo que o recheio seja rúcula.
MAIS INFORMAÇÃO
Neste link você encontra um excelente manual de boas práticas para evitar a contaminação por glúten produzido pela Noádia Lobão.
REFERÊNCIAS:
Benatti, Raquel. Contaminação Cruzada por Glúten em produtos sem glúten: O que são traços de glúten? Clique aqui para acessar.
Crucinski, Juliana. 99% sem glúten, mas aquele 1%… Disponível aqui.
DÚVIDAS
Se você tem alguma dúvida acerca da doença celíaca, deixe aqui nos comentários, queremos lhe ajudar!
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