Sensibilidade ao glúten não celiaca (SGNC)
Há algum tempo, tive uma cliente com diagnóstico de sensibilidade ao glúten, ao conversar com ela, recebi um balde de agua: “não consigo entender, se eu não sou celíaca, por quê preciso restringir o glúten”?
Para tentar ajudar a entender essa questão é que serve o post de hoje, o que é a SGNC? Tem cura? Tem medicação? Usar enzima resolve? Qual o melhor tratamento? São algumas das dúvidas que tentaremos responder aqui.
A primeira informação e a mais importante é que a sensibilidade ao glúten é uma doença recente e diferente da doença celíaca. Em 2011, o Dr. Alesio Fasano, referência mundial em doença celiaca, realizou um estudo na Escola de Medicina da Faculdade de Maryland que concluiu pela existência de ambas as doenças. Veja aqui uma entrevista dada por ele sobre o assunto (em português e em inglês).
Para o Dr. Alesio, a sensibilidade ao glúten afeta de 6 a 7 vezes mais do que a doença celíaca. Número bastante alto! Para ele, a sensibilidade ao glúten está baseada em um mecanismo diferente do sistema imunológico, em razão disso, seria difícil imaginar que um indivíduo com sensibilidade ao glúten viesse a desenvolver a doença celíaca.
Mas aqui, temos um ponto bastante interessante: indivíduos sensíveis ao glúten podem ser na verdade celiacos com diagnóstico incorreto. Como isso ocorre? Para dar esta informação, vou usar um texto da Raquel Benatti, que voce pode conferir na íntegra no link ao final do post.
- 2% dos celiacos não positivam os exames sorológicos – de sangue – razão pela qual não é possível falar em sensibilidade ao glúten sem realizar exames complementares (endoscopia com biópsia e exame genético).
- A retirada do glúten antes da realização de exames é outro fator – isso ocorre porque a não ingestão de glúten, tende a zerar ou baixar muito os anticorpos, fazendo com que o resultado seja um falso negativo.
- Número insuficiente de amostras para biópsia – sugere-se a retirada de, no mínimo, 4 fragmentos da 2° porção do duodeno para a realização da biópsia.”A razão para a coleta múltipla é o padrão nem sempre homogêneo do acometimento duodenal, podendo haver tecido normal intercalado com tecido comprometido”. Indica-se a retirada de 6 fragmentos para a biópsia.
Eu ainda incluiria aqui uma outra questão: não é possível descartar a doença celíaca, com base em endoscopia negativa, quando outros fatores colaborarem para o diagnóstico (sorológicos e genético positivos e sintomas com a ingestão de glúten), isso porque o comprometimento causado pela doença celíaca pode estar em um local de difícil acesso pelo endoscópio. Nesse caso, embora a endoscopia com biópsia seja o padrão ouro, sendo ela negativa, não podemos falar em sensibilidade ao glúten – pois outros positivos existem.
Mas o que é exatamente a sensibilidade ao glúten? E como se faz o diagnóstico?
É uma condição clínica onde o indivíduo não “tolera” muito bem o glúten. Alguns podem ter distensão abdominal, outros enxaqueca, outros diarreia, enfim, sintomas dos mais variados.
Entende-se com SGNC o paciente cujos exames deram negativos para doença celíaca, alergia ao trigo ou outras doenças a ele ligadas (ataxia cerebelar e dermatite hepertiforme por exemplo), possuem sintomas com a ingestão do glúten, que melhoram com a sua retirada e pioram com a reintrodução. Conforme diz o Dr. Fasano, trata-se de um “diagnóstico de exclusão”.
Esse diagnóstico deve ser feito por um médico que realmente entenda do assunto e faça o correto descarte das demais desordens relacionadas ao glúten.
Quanto ao tratamento, é preciso dizer que, por ser uma doença recente, com poucos ensaios sobre o tema, os estudiosos do assunto indicam uma dieta 101% sem glúten e cuidado com a contaminação cruzada, tal qual ocorre com os celíacos. Isso porque o reflexo da SGNC no futuro é bastante incerto ainda.
As enzimas também não são indicadas para quem tem SGNC, que é uma desordem do organismo em relação ao glúten, não uma simples “não me cai bem”.
Quanto à cura, assim como a doença celíaca, ainda não encontraram. Apenas a dieta bem feita pode diminuir os sintomas causados pelo glúten.
Se você tem alguma “indisposição” com o glúten, não retire ele da dieta de imediato. Você precisa procurar um MÉDICO e fazer os exames adequados, para que o seu diagnóstico seja correto. Se os resultados forem negativos, vale fazer a prova terapêutica – retirar o glúten e, depois de um tempo, reintroduzi-lo para ver como o organismo se comporta.
Referências:
Benatti, Raquel. Equívocos no diagnóstico da doença celíaca. Para ler o texto completo, clique aqui.
Para saber mais sobre as pesquisas realizadas pelo dr. Fasano, curta, no Facebook, a página do Centro de Pesquisa e Tratamento da Doença Celíaca.
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