Alergia a Trigo x Doença Celíaca

No dia 20/05 comemoramos o Dia Nacional de Conscientização sobre a Doença Celíaca. Muitas pessoas confundem a Doença Celíaca com Alergia a trigo, embora o tratamento seja o mesmo (dieta isenta de glúten e de contaminação cruzada) os mecanismos do corpo são diferentes e é sobre isso que quero conversar com vocês hoje.

A alergia ao trigo, segundo a ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia) é uma resposta exagerada do organismo, uma reação indesejável que ocorre após a ingestão do trigo. Trata-se de um mecanismo IMUNOLÓGICO, uma reação de hipersensibilidade, muitas vezes mediada por IGE.

“As reações IgE mediadas são tipicamente caracterizadas por uma inflamação linfocítica tipo T helper 2 com o respetivo padrão de citocinas (interleucina (IL)‑4, IL‑5, IL ‑13; esta inflamação leva as células B à produção de anticorpos específicos do tipo IgE. A ligação de antigénios com as moléculas de IgE à superfície de mastócitos e basófilos leva à desgranulação destas células com libertação de mediadores responsáveis pelas alterações fisiopatológicas e manifestações clínicas.”

Basicamente, quando o sistema imunológico é sensibilizado pelas proteínas do trigo, neste caso em específico, ele produz anticorpos do tipo IGE (esta é uma primeira diferença com relação à DC), que ligado ao mastócito, resulta na liberação de histamina, uma das responsáveis pelo processo alérgico. Por isso, o tratamento é feito com medicamentos anti-histamínicos, que impedem a produção da histamina, voltando o organismo ao estágio normal (enquanto não tiver contato com o alérgeno).

Os sintomas de alergia podem ser do tipo RESPIRATÓRIOS, de PELE, GASTROINTESTINAIS ou mistos.

Já a Doença Celíaca (DC) é uma desordem sistêmica autoimune, que é desencadeada pela ingestão do glúten (presente no trigo, na cevada, no centeio e na aveia por contaminação).

A doença celíaca tende a produzir anticorpos do tipo IGA. Estes anticorpo, que assim como o IGE, tem como função fazer a defesa do organismo, tem uma participação importante na proteção da superfície das mucosas (intestino, estômago e boca) para impedir a penetração de bactérias, vírus ou outro microrganismo invasor.

Na doença celíaca, o organismo reconhece o GLÚTEN como um possível invasor e tenta impedir a entrada dele produzindo anticorpos, por isso, a maioria dos celíacos positiva exames de anticorpos do tipo IGA e IGG (anti-transglutaminase, anti-gliadina ou anti-endomísio) – mas este é um assunto para um próximo post.

Porém, como se trata de uma doença AUTOIMUNE, ao tentar se livrar do glúten, o organismo ataca a si mesmo, podendo ocorrer inflamação crônica da mucosa do intestino delgado (que é padrão da doença), resultando na atrofia das vilosidades intestinais, ou ainda, atacar a pele (dermatite hepertiforme). Alguns estudos já relatam ataques a outros sistemas do organismo.

O fato é que, EMBORA, os mecanismos de ação sejam diferentes, os sintomas podem ser semelhantes: problemas de pele (dermatites), gastrointestinais (diarreia, prisão de ventre) e extraintestinais (enxaqueca, baixo crescimento, anemia persistente, osteopenia, aftas de repetição). Os respiratórios ficam mais claros em casos de alergia.

O diagnóstico da alergia ao trigo é feito por exame de sangue sorológico, buscando encontrar os anticorpos do tipo IGE, em casos de alérgicos não mediados por IGE, o diagnóstico é feito por teste de provocação oral (temos um post sobre isso especificamente). Já na doença celíaca, o diagnóstico pode ser um verdadeiro quebra-cabeças, que se inicia com exames sorológicos antigliadina, antiendomísio e antitransglutaminase (IGA e IGG), endoscopia com biópsia do duodeno e exame genético, além da análise da presença/ausência de sintomas.

A pessoa com alergia alimentar em algum momento pode vir a tolerar o trigo. Já o celíaco, deverá excluí-lo de sua dieta para o resto da vida.

Agora que você já sabe a diferença, vou deixar uma dica de ouro, que serve para o tratamento tanto da alergia, quanto da doença celíaca: SEMPRE FAÇA A DIETA CORRETAMENTE, EXCLUINDO INCLUSIVE A CONTAMINAÇÃO CRUZADA, este é o único tratamento existente para ambos.

Referências

scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-97212018000300002

http://asbai.org.br/alergia-alimentar/
https://www.riosemgluten.com.br/doenca-celiaca

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